Sobre o projeto

ASSA é um projeto de pesquisa multissituado, baseado na UCL Anthropology, cujo financiamento vem, primeiramente, do Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Coundil ou ERC), sob o programa de pesquisa e inovação European Union’s Horizon 2020 (autorização de fomento no. 740472).

O projeto mobiliza, hoje, uma equipe de 11 pesquisadores (a maioria antropólogos) que conduziram etnografias simultâneas, de 16 meses de duração, em Al-Quds (Leste de Jerusalém), Brasil, Camarões, Chile, China, Irlanda, Itália, Japão e Uganda. Lançado em outubro de 2018, o trabalho de campo seguiu entre fevereiro de 2018 e junho de 2019. Este projeto colaborativo, de cinco anos de duração, se pauta em uma análise comparativa do impacto do smartphone na meia-idade (pessoas que não se entendem nem como velhas, nem como jovens) ao redor do mundo, e leva em conta as implicações do uso do aparelho no campo da saúde.

Nossos três primeiros livros, com livre acesso, já foram publicados! Você pode baixá-los gratuitamente através da UCL Press.

Smart-desde-a-base

O ethos desse projeto ilustra uma abordagem denominada “smart-desde-a-base”. Defendemos que, com os smartphones, é frequente que pessoas comuns desenvolvam soluções criativas e engenhosas para lidar com questões que vão desde o envelhecimento até as relações sociais de modo amplo, passando pela saúde. Em vez de termos soluções que vão do topo rumo à base, tentamos aprender com as nossas observações de usuários de smartphone, e, em seguida, reunir, analisar e difundir os aportes dessa pesquisa.

Quais os desdobramentos para a antropologia, e para além dela?

Planejamos publicar onze volumes com os nossos resultados, tendo os três primeiros saído em 6 de maio de 2021. Todos os nossos livros serão em formato de acesso livre, e poderão ser baixados gratuitamente no website da UCL Press. Pretende-se traduzir a principal obra comparativa, O Smartphone Global, e publicá-la em todos os idiomas falados em nossos campos etnográficos. Estamos, ainda, criando um canal de YouTube com curta-metragens relativos aos campos etnográficos, e continuamos com nosso blog ativo aqui.

Além disso, teremos, em 10 de maio de 2021, o lançamento do MOOC (curso universitário gratuito) baseado em nossas descobertas. Ele está hospedado no Futurelearn – você pode se inscrever clicando aqui

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Smartphones

Nossas etnografias trouxeram um entendimento totalmente original sobre o que são os smartphones, e quais as suas consequências para os usuários. Designamos o smartphone de “Lar Portátil”, já que o percebemos mais como um lugar onde se vive, do que como um mero dispositivo que usamos. Sugerimos que tanto os dois components da palavra, “smart” (“esperto”) e “phone” (do sufixo “fone”) podem levar a conclusões errôneas. O “smart” foca no uso de algoritmos e de inteligência artificial (IA), através dos quais o dispositivo aprende sobre nós, na posição de usuários do aparelho. Contudo, importa muito mais a maneira pela qual os smartphones se prestam a infinitas mudanças e adaptações da parte de seus usuários, o que traz uma intimidade inédita entre ambos, que batizamos de “Para Além do Antropomorfismo”. Isto significa que os smartphones também possuem a habilidade de expressar valores culturais mais amplos. O uso do smartphone para realizar chamadas de voz aparece, hoje, apenas como uma função menor.

Além disso, o smartphone nos leva à Morte da Proximidade, à medida que pessoas sentadas bem ao nosso lado podem, na verdade, ter voltado para seu Lar Portátil. O smartphone altera nossa relação para com o mundo através do que denominamos “Oportunismo Perpétuo”. Nossa pesquisa sugere que o uso do aparelho é orientado para a resolução de tarefas, mais do que simplesmente um agregado de aplicativos. Durante a pandemia de COVID-19, pudemos observar o potencial dos smartphones tanto para cuidar, quando para vigiar. Contudo, a tecnologia de marcar e rastrear, implementada por vários países, resultou em respostas muito diferentes ao redor do mundo, porque o equilíbrio entre cuidado e vigilância é uma questão mais cultural do que tecnológica. Exploramos todas essas ideias em nosso livro, O Smartphone Global, assim como no nosso MOOC, The Anthropology of Smartphones (“A Antropologia dos Smartphones”) e na seção Descobertas deste website.

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Smart Ageing

Nossos estudos comparativos apontaram mudanças consideráveis na experiência de envelhecer, ao redor do mundo. Em nosso campo etnográfico da Palestina, as pessoas mantinham as categorias culturais de “senioridade”, e trocavam de roupa e de postura de acordo com essa proposta. Em contrapartida, em campos etnográficos como o de São Paulo e o de Dublin, as categorias culturais de envelhecimento são muito menos visíveis. As pessoas não se sentem tão idosas quanto esperavam ao completar 60, 70, 80 ou, por vezes, até mesmo 90 anos de idade. Ao invés da idade biológica, importa mais a fragilidade, à medida que, hoje, o que constitui o senso de “ter envelhecido” é a experiência de se tornar frágil.

Há, ainda, diferenças no impacto da aposentadoria, que são igualmente dramáticas. Em Kampala, Uganda, as pessoas podem ter a esperança de retornar à sua aldeia natal. Em Santiago, Chile, os migrantes peruanos que estudamos nem mesmo cogitam se aposentar. Em Xangai, a aposentadoria é uma chance, para a geração que cresceu durante a Revolução Cultural, de considerar tudo o que foi deixado de lado à época. Em São Paulo, tenta-se reter os vínculos com a identidade de trabalho, enquanto, em Dublin, tende-se a ver a aposentadoria como uma chance de repudiar a identidade de trabalho, e começar uma missão que poderia ser designada por “artesania da própria vida”. No Japão, há questões intergeracionais complexas, resultado de uma migração cruzada entre regiões urbanas e rurais. Tais questões são cada vez mais importantes, à medida que, para algumas pessoas, o período da aposentadoria pode ser tão longo quanto o tempo de contribuição.

Smartphones podem, de início, exacerbar uma divisão intergeracional digital, já que as pessoas mais velhas são excluídas e padecem para aprender a usar o aparelho (vários membros da nossa equipe lecionaram cursos sobre uso de smartphone, sobre os quais você pode ler aqui, aqui e aqui). Contudo, uma vez dominado o dispositivo, o uso de smartphones pode trazer o efeito oposto, ou seja, auxiliar pessoas mais velhas a desenvolver e participar de atividades que, no mínimo, lhes trazem o sentimento de rejuvenescer.

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m-Health

Nosso projeto começou com a intenção de usar a informação etnográfica para contribuir com o desenvolvimento de iniciativas de mHealth; porém, em poucos meses, alteramos totalmente o nosso rumo. Descobrimos que pessoas mais velhas tendem a evitar aplicativos especializados em saúde e que importava muito mais, nessa temática, o modo como elas mesmas adaptavam, para fins de saúde, os aplicativos com os quais já estavam à vontade, como o LINE (Japão), WeChat (China) e WhatsApp (todas as demais regiões). Examinamos, ainda, o impacto da disponibilidade online de informação sobre saúde. Em Iaundé, era frequente o acesso a esse conteúdo via YouTube, enquanto um estudo sobre o uso do Google pelas pessoas de Dublin apontou que ele pode exacerbar diferenças de classe. Em Kampala, percebemos que a chave para a assistência médica era o dinheiro móvel, extensivamente usado para envio de remessas com fins de saúde. Tais observações ilustram nossa estratégia smart-desde-a-base. Um exemplo de como nossas observações foram aplicadas na prática pode ser encontrado aqui. Temos neste link um manual pormenorizado, redigido por Marilia Duque, sobre os possíveis usos do WhatsApp junto ao sistema de saúde.

Campos de Pesquisa

O time

A maior parte do time está baseado na UCL e conta com financiamento do European Research Council (ERC). O time inclui estudantes de doutorado, pós-doutorado e acadêmicos em tempo integral. O projeto também inclui a colaboração de outros departamentos da UCL, além de outras instituições e fontes de fomento à pesquisa científica.

Veja a relação de projetos parceiros.

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